ASSIM RELATOU MOISÉS:
A Páscoa… ah, a Páscoa não é apenas uma celebração antiga, atravessando gerações como o vento que sopra de tempos em tempos — é um marco eterno na aliança entre o Senhor e o Seu povo. Ainda assim, muitos caminham por esta vida sem compreender a origem verdadeira desse momento sagrado. Até mesmo entre os que dizem crer, há quem não compreenda a profundidade que a Páscoa carrega. Alguns conhecem as Escrituras, mas não discernem o sentido da celebração. Porém, a verdade se revela na fidelidade do Senhor e na libertação do povo que Ele escolheu para Si.
Para que entendam o peso e o propósito desta celebração, vos levarei de volta — não apenas ao Egito, mas mais além, aos dias dos patriarcas, antes mesmo que eu nascesse. O significado da Páscoa não se encerra em um único momento, pois ela atravessa os séculos, de Canaã até o madeiro fora dos muros de Jerusalém.
Foi por ordem direta do Senhor que eu, Moisés, institui a Páscoa como uma celebração sagrada para o povo de Israel. A primeira vez que obedecemos esse decreto foi no mês de abibe, que veio a ser o primeiro em nosso calendário santo. Mais tarde, após o cativeiro da Babilônia, este mês passou a ser chamado de Nissan, coincidindo com os dias que os gentios conhecem como março e abril.
Contudo, saibam que os fundamentos dessa celebração não começaram comigo. Já quinhentos anos antes, o Senhor falara com Abraão, meu antepassado, revelando-lhe o destino de sua descendência. Disse o Altíssimo: “Tua descendência será estrangeira em terra alheia, e ali será escravizada e afligida por quatrocentos anos. Mas Eu julgarei a nação que os oprime, e depois sairão com grandes riquezas.”
Os dias se cumpriram. José, bisneto de Abraão, foi traído por seus próprios irmãos. Venderam-no a ismaelitas, que o levaram ao Egito como escravo. E foi lá, mesmo na aflição, que o Senhor esteve com José. Levantou-o como governador da terra, responsável por armazenar mantimento para os anos de fome que viriam. Quando a escassez atingiu a terra, Jacó — pai de José — levou toda sua casa ao Egito em busca de alimento. Ali fixaram morada.
Enquanto José viveu, os filhos de Israel prosperaram e foram respeitados. Mas veio um novo Faraó, que não conhecia José, e vendo o crescimento dos nossos no meio da terra, temeu-nos. Por isso nos sujeitou à escravidão. Por quatrocentos anos, gememos sob o peso do trabalho forçado, até que o Senhor ouviu o clamor do Seu povo e me chamou para conduzi-los à liberdade.
Então, o Senhor enviou sobre o Egito dez pragas, e a última delas — a morte dos primogênitos — foi o início daquilo que hoje chamam de Páscoa.
Naquela noite solene, o Senhor me falou com palavras firmes e claras. Cada família de Israel deveria tomar um cordeiro macho, sem defeito, no décimo quarto dia do mês. Com o sangue, deveriam marcar as ombreiras e a viga superior das portas de suas casas. Assim, quando o destruidor passasse, pouparia os que estavam sob o sinal do sangue. O cordeiro deveria ser assado no fogo e comido com pães asmos e ervas amargas.
José falou: “Por que comemos pão sem fermento e essas ervas amargas?”
Respondi-lhe: “O pão sem fermento nos lembra da pressa com que deixamos o Egito, pois não houve tempo para a massa fermentar. E as ervas amargas nos fazem recordar o amargor da servidão, o gosto da aflição que suportamos naquela terra de opressão.”
O Senhor ainda ordenou que estivéssemos prontos para partir: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão. Era uma refeição de despedida, uma noite que selava o fim da escravidão e o início de uma nova vida.
Assim, a Páscoa tornou-se para nós um memorial perpétuo — testemunho da fidelidade do Senhor e da libertação que Ele realizou com mão poderosa.
Naquela mesma noite, quando a última praga caiu sobre o Egito, o juízo do Senhor passou como um vento cortante. Todos os primogênitos da terra morreram — dos filhos dos homens até os animais recém-nascidos. Nem os palácios foram poupados, nem as casas humildes escaparam. Aquele foi um golpe direto contra os deuses do Egito, pois nenhum deles conseguiu proteger os seus. Diante do braço estendido do Altíssimo, não houve resistência.
O verdadeiro significado da Páscoa foi revelado com clareza quando o Senhor me ordenou instruir o povo: “E acontecerá que, quando vossos filhos vos perguntarem: ‘Que rito é este?’, então respondereis: ‘Este é o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas’.” E assim o povo se prostrou com reverência e adorou ao Deus de nossos pais.
A palavra que usamos, “Pessach”, vem do hebraico, e quer dizer “passar por cima” ou “saltar”. Quando o Altíssimo viu o sangue do cordeiro nas portas de nossas casas, passou por cima delas, e os que ali habitavam foram poupados. Este gesto foi de misericórdia — enquanto o juízo caía sobre os egípcios, o Senhor guardava os filhos de Israel.
Por ordem do Senhor, determinei que essa celebração fosse mantida a cada ano, como estatuto perpétuo, para que nunca nos esquecêssemos do livramento que recebemos. A Páscoa tornou-se, assim, a mais antiga de nossas festas, e deveria ser guardada por todos os filhos de Israel, conforme os mandamentos que o Senhor me confiou. Estes foram registrados nos rolos de Êxodo, Levítico e Deuteronômio, para que nenhum detalhe se perdesse com o tempo.
O sacrifício do cordeiro se realizava ao entardecer do décimo quarto dia do primeiro mês. E, a partir dali, celebrávamos durante sete dias os pães asmos. O cordeiro, macho, sem defeito, e de até um ano, era separado no décimo dia, guardado até o décimo quarto, e então imolado. Assávamos o cordeiro inteiro, sem que nenhum de seus ossos fosse quebrado. Comíamos acompanhado de ervas amargas e pães sem fermento, pois tudo relembrava a pressa de nossa saída e a aflição que havíamos suportado.
O povo se vestia como quem está pronto para partir: lombos cingidos, sandálias calçadas, cajado firme na mão. Nenhuma sobra era guardada. O que restasse do cordeiro, devia ser queimado ainda naquela noite. Tudo era feito com temor e obediência.
O chefe de cada casa tinha o dever de explicar aos filhos o que significava aquele momento. Assim, de pai para filho, a memória do livramento se perpetuava. E, como instruído pelo Senhor, também estabeleci uma segunda Páscoa, para os que estivessem impuros ou em viagem no tempo da primeira. Isso está escrito no livro de Números.
Durante nossa caminhada no deserto, os filhos de Israel por vezes deixaram de observar a festa. Só voltaram a celebrá-la com fidelidade quando acamparam em Gilgal, sob o comando de Josué. A Páscoa, então, passou a ser recordada em muitos momentos importantes da nossa história.
E chegou o tempo em que se cumpriria aquilo que a Páscoa simbolizava de forma mais profunda.
Nos escritos posteriores, os evangelhos que os discípulos do Messias registraram, é mencionado que Jesus, filho de Maria e José, subia a Jerusalém a cada ano por ocasião da Páscoa. O evangelho segundo João menciona várias dessas subidas, revelando como a festa acompanhou todo o ministério dEle.
Naqueles dias, os cordeiros eram levados ao templo. Os sacerdotes tomavam o sangue e o lançavam sobre o altar. A refeição pascal era feita em grupos familiares, nas casas, como quando Jesus se assentou com Seus discípulos no cenáculo, partindo o pão e explicando coisas que só os atentos compreenderam.
Jerusalém se enchia de vozes, passos e orações. Multidões vinham de regiões distantes. Judeus da diáspora retornavam à cidade santa, desejosos de participar da celebração. Os gentios não participavam, exceto aqueles que, convertendo-se, aceitavam a Lei que o Senhor me confiou — esses também podiam tomar parte na Páscoa.
E assim, geração após geração, a celebração continuou viva entre nós, como marca do poder do Senhor, que libertou com braço estendido e mão poderosa.
Alguns estudiosos dos tempos do Novo Testamento afirmam que, naqueles dias de Páscoa, cerca de duzentos e cinquenta mil cordeiros eram sacrificados em Jerusalém. Imaginem isso! Uma quantidade tamanha exigia o esforço conjunto de muitos sacerdotes, pois todos os cordeiros precisavam ser imolados antes que o sol se pusesse no dia 14 de Nissan, conforme está escrito na Lei que recebi do Senhor.
O volume de sangue derramado nos dias da Páscoa era imenso. Historiadores relataram que as águas do riacho que corria ao lado do templo ficavam tingidas de vermelho, como se a terra, silenciosa, testemunhasse o preço do pecado. Era uma imagem forte. A cada cordeiro sacrificado, a cada gota de sangue, o povo era lembrado de que a vida de um inocente era requerida por causa da transgressão do homem.
Mas o tempo passou, e com ele vieram mudanças profundas. No ano 70 da era cristã, Jerusalém foi destruída, e o templo foi arrasado. Sem o altar, sem os sacerdotes, sem o lugar sagrado, o povo de Israel já não podia mais cumprir os rituais como antes. A celebração da Páscoa se recolheu aos lares, tornando-se algo mais íntimo, mais semelhante àquela primeira noite no Egito, quando cada casa era um altar de fé, temor e obediência ao Senhor.
Ainda assim, apesar de tantas gerações de cordeiros sacrificados, nenhum sangue ali derramado era capaz de apagar os pecados. Os cordeiros pascais apontavam para algo maior. Eram figuras de um sacrifício que ainda viria — o único eficaz. O verdadeiro Cordeiro de Deus. Jesus Cristo.
O profeta Isaías já havia anunciado: “Como um cordeiro, foi levado ao matadouro” (Isaías 53:7). E séculos depois, quando João Batista O viu, declarou com firmeza: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” Aquele de quem todos os símbolos falavam havia finalmente se manifestado.
Jesus foi traído, preso e crucificado justamente durante a Páscoa. E assim como o cordeiro imaculado, nenhum de Seus ossos foi quebrado — em cumprimento ao que está escrito no Salmo 34:20. A tradição mais aceita entre os seguidores do Caminho é que isso aconteceu numa sexta-feira. Alguns debatem outras datas, como quarta ou quinta-feira, mas sigamos com o entendimento da sexta.
Na noite anterior, quinta-feira, Jesus se reuniu com os discípulos para celebrar a Páscoa. Ali, no cenáculo em Jerusalém, eles comeram o cordeiro pascal. Foi a última ceia da antiga aliança. A última celebração nos moldes de Êxodo, de Levítico, de Deuteronômio. Depois daquela noite, nada mais seria como antes.
Pois ali estava o verdadeiro Cordeiro. Aquele que não apontava para outro, mas que consumava o propósito eterno do Pai. Um sacrifício único, perfeito e definitivo. O Filho de Deus seria oferecido, não por uma nação apenas, mas por todos quantos cressem n’Ele.
Naquela ceia, Jesus tomou o pão, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo.” Depois, tomou o cálice e disse: “Este é o meu sangue, o sangue da nova aliança.” E assim, instituiu algo novo — a Ceia do Senhor. Um memorial vivo e contínuo de Sua entrega até que Ele volte.
A antiga Páscoa olhava para frente, para uma promessa que ainda se cumpriria. A Ceia, por sua vez, olha para trás, para uma promessa que já se cumpriu — e ainda aponta para o futuro, para o grande banquete no Reino dos Céus, onde Ele estará presente com os remidos.
Na última Páscoa, Jesus esteve com os doze. Na próxima, Ele prometeu estar com todos os Seus — cada um que foi lavado pelo sangue do Cordeiro.
E quando se pergunta se os cristãos devem celebrar a Páscoa, a resposta não está num ritual, mas na compreensão. A Páscoa era uma sombra, um símbolo temporário. Era um sinal apontando para algo eterno. Com a vinda do Messias, o sentido se completou. O Verbo se fez carne. Ele é o nosso Cordeiro. O nosso resgate. A nossa libertação.
A Páscoa, como foi instituída por ordem do Senhor, tinha um fim específico. Era figura de uma realidade maior. Cristo é essa realidade. Ele é a essência de tudo o que foi celebrado pelos nossos pais por tantos séculos.
Por isso, quando alguém deseja continuar observando a antiga Páscoa à luz da cruz, volta ao que era sombra. Ao que já foi cumprido. O autor da carta aos Hebreus explicou isso com clareza. Toda a epístola mostra que Cristo é superior — superior aos anjos, a mim, Moisés, ao sacerdócio levítico, aos sacrifícios antigos. E, entre esses, estava também a Páscoa.
E Paulo, escrevendo aos irmãos em Corinto, declarou: “Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós.” Ele é o nosso Cordeiro Pascal. Não precisamos de outro. Não há outro.
Por isso, nós, que fomos alcançados pela graça, não celebramos a Páscoa como uma festa marcada no calendário, entre março e abril. Não nos guiamos por datas fixas, nem por tradições que passaram. Celebramos, sim, ao longo de todo o ano, sempre que nos reunimos para lembrar do sacrifício do Senhor. A cada vez que partimos o pão e tomamos do cálice, proclamamos a morte de Cristo, até que Ele venha.
Na cruz, Seu sangue foi derramado. E naquele instante, a justiça do Pai foi plenamente satisfeita. A condenação que deveria recair sobre nós passou por cima — como na noite no Egito, quando o anjo do juízo poupou cada lar marcado com o sangue do cordeiro. Assim também hoje, os umbrais da nossa alma estão selados com o sangue do Cordeiro de Deus. E por isso, fomos justificados. Fomos libertos.
Se alguém me perguntasse hoje o que significa a Páscoa para os que creem em Jesus, eu responderia sem hesitar: significa que a ira santa de Deus não nos alcançou, porque houve sangue. E esse sangue, mais puro do que o de qualquer cordeiro terreno, testifica que fomos perdoados. Que já não estamos mais sob condenação. Somos livres.
Por isso, não celebramos a Páscoa como os antigos judeus. Tampouco seguimos tradições humanas que tentam reinventá-la. Nós celebramos a ceia do Senhor — e isso é infinitamente maior, porque aponta para um sacrifício completo, eterno, suficiente.
Mas muitos se perdem entre os símbolos populares que surgiram ao redor dessa época. Coelhos, ovos, chocolates… de onde vêm essas tradições? De fato, não vieram do céu. Foram inseridas ao longo do tempo, muitas vezes com intenções pagãs ou interesses comerciais. Falam de fertilidade, de renovação… mas nada dizem sobre redenção. Nada falam da cruz. E quando igrejas adotam esses elementos em seus cultos, transformam o que deveria ser um memorial sagrado em uma tradição vazia. E isso entristece o coração.
Por outro lado, também há quem tente rejeitar essas modernidades mergulhando nos antigos rituais do Antigo Testamento. Em algumas igrejas, revivem-se práticas como assar cordeiros, comer ervas amargas, usar vestes hebraicas. E embora pareça zelo, na verdade, é um equívoco. Pois, ao tentar resgatar o antigo, acabam desprezando o que é eterno. Ambos os extremos, o sincretismo moderno e o retorno aos ritos judaicos, afastam-se da simplicidade do evangelho.
A verdade, porém, é que mesmo não sendo uma data sagrada para nós, a época da Páscoa pode se tornar uma grande oportunidade. As famílias se reúnem, os corações se abrem. E é nesse contexto que podemos ensinar — com graça, com sabedoria — o verdadeiro significado da redenção. Desde a noite no Egito, com portas marcadas pelo sangue, até o Calvário, onde o Cordeiro eterno foi oferecido por nós.
Ali, no monte Gólgota, nossas correntes caíram. O poder do pecado foi derrotado. E hoje, esperamos com confiança o cumprimento final de todas as promessas: o dia em que, no novo céu e na nova terra, estaremos à mesa com o Cordeiro. Não haverá mais símbolos, nem sombras. Haverá presença. Haverá plenitude. Haverá comunhão verdadeira.
Diante de tudo isso, fica evidente: a Páscoa, como figura, cumpriu sua missão. Ela apontava para Cristo. Ele é o Cordeiro perfeito que foi imolado por nós. Já não precisamos de pães asmos, nem de ervas amargas. Não precisamos de ovos, nem de chocolates. Precisamos apenas da cruz. E de lembrar — com gratidão — daquele que se entregou por amor.
A verdadeira celebração não está em rituais, nem em costumes herdados. Está em proclamar, com o coração rendido, que fomos salvos. Que fomos perdoados. Que fomos alcançados pela graça de Deus em Cristo Jesus.
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