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Economia é a ciência mais mortal

Economia é a ciência mais mortal


Bem-vindos ao canal Money Sapiens, onde exploramos as complexidades fascinantes do mundo econômico e suas implicações profundas na vida cotidiana. Hoje, mergulhamos em uma discussão sobre as limitações e desafios da abordagem moderna da economia, destacando as perspectivas do renomado economista Angus Deaton. A economia não é apenas sobre números, mas também sobre as experiências humanas que moldam o nosso mundo. Vamos explorar como as decisões econômicas podem ter impactos sociais e humanos de grande escala, e como podemos encontrar um equilíbrio entre os dados e a filosofia na busca por políticas econômicas mais justas e sustentáveis.


Às vezes, a economia é apelidada de “ciência sombria”, e se isso soa como um apelido estranho, considere o seguinte. Em 1976, um grupo de economistas finlandeses optou por examinar o impacto líquido do tabagismo na economia nacional. Por 27 anos, acompanharam indivíduos, alguns fumantes e outros não, registrando sua contribuição ou ônus para a economia através de aspectos como impostos gerados e despesas médicas e previdenciárias.
A hipótese inicial desses economistas era que os fumantes contribuiriam menos para a economia ou até mesmo representariam um ônus líquido devido a uma saúde precária, tornando-se um peso para os sistemas de saúde e sendo menos produtivos mesmo quando relativamente saudáveis. No entanto, os resultados não confirmaram essa expectativa.
Surpreendentemente, os fumantes, em média, viveram 8,6 anos a menos do que os não fumantes, resultando em um ônus menor para os sistemas de previdência financiados publicamente. A contribuição líquida média para as finanças públicas dos fumantes foi, na verdade, 133 mil euros maior do que a dos não fumantes. Isso ocorreu porque a maioria dos fumantes economicamente ativos não morreu enquanto ainda contribuía para a produção econômica, mas sim após, tornando-se um ônus líquido para os recursos e sistemas de previdência.
Somente quando os economistas suavizaram sua abordagem e incluíram o valor da vida humana é que os resultados foram revertidos. A conclusão lógica é que, para maximizar a produção econômica nominal, o governo deveria incentivar o tabagismo. Embora essa sugestão específica seja evidentemente absurda, ela destaca o desafio complexo de que o que é benéfico para o indivíduo nem sempre é o melhor para a sociedade.
A ciência econômica, centrada na alocação de recursos fundamentalmente limitados, enfrenta compromissos muitas vezes difíceis, e a escolha correta nem sempre é óbvia. Isso também pressupõe que os tomadores de decisão, desde líderes governamentais até cidadãos comuns, atuem logicamente para maximizar resultados positivos, em vez de basear suas decisões em ideologia, ganho pessoal ou simples ignorância – uma suposição que muitos economistas reconhecem como bastante desafiadora.
As consequências dessas decisões difíceis, mesmo tomadas com as melhores intenções, têm custado a vida de milhões ao longo da história humana. Isso não é uma hipérbole, como afirmam vários economistas de renome, incluindo um notável ganhador do Prêmio Nobel.

 

É preocupante notar que muitos dos erros cometidos no passado, quando os economistas simplesmente não sabiam de nada ou nem mesmo existiam, estão sendo repetidos nos dias de hoje. Quais são os exemplos dos maiores fracassos econômicos dos quais podemos aprender ao longo da história? Que falhas estamos cometendo agora? E, finalmente, quantos bilhões de pessoas morreram ao longo do tempo devido a políticas econômicas deficientes? A economia pode ser um campo deprimente, quando olhamos para os números brutos e percebemos o quanto de sofrimento humano pode ser causado, mesmo quando as intenções são as melhores.
Podemos aprender com os fracassos econômicos do passado para evitar repeti-los no presente. A disciplina acadêmica da economia está atualmente em crise, com microeconomistas sendo acusados de falsificar resultados para tornar seus estudos mais interessantes, em detrimento da verdade. Macroeconomistas, por outro lado, enfrentam desafios ao estudar interações em grande escala, muitas vezes em nível nacional ou global, tornando difícil realizar experimentos macroeconômicos.
Em 1958, na tentativa de modernizar a China comunista, houve um esforço para aumentar a produção de aço. A teoria era que o aço é vital para a construção industrial moderna e, portanto, mais aço significaria mais fábricas, máquinas e infraestrutura, resultando em aumento da produção total e mais recursos para serem compartilhados. No entanto, esse plano não foi bem-sucedido. O crescimento econômico e o consumo de aço estão correlacionados, mas o caso chinês de 1958 mostrou que a abordagem simplista pode levar a consequências adversas.
Ao olharmos para a história econômica, encontramos uma lista interminável de erros dos quais podemos aprender. A disciplina econômica precisa aprender com esses erros, reconhecer as limitações de suas abordagens e buscar soluções mais eficazes.
Se uma economia utiliza máquinas feitas de aço, pode aumentar a produção e desenvolver mais produtos feitos desse material. A China, no entanto, adotou uma ideia teoricamente sólida, mas que resultou em consequências desastrosas. Na tentativa de aumentar a produção de aço e modernizar rapidamente sua economia, o governo chinês incentivou a construção de fornos de quintal, feitos de tijolos e argila, pelos agricultores.
Ao invés de investir em fábricas de fundição de aço de alta qualidade, os agricultores foram encorajados a construir fornos básicos que queimavam qualquer coisa como combustível, incluindo madeira, ferramentas e até caixões. Essa abordagem resultou na derrubada de florestas inteiras, prejudicando a produção agrícola e levando à grande fome chinesa, que causou a morte de milhões de pessoas. A ideia de que o aumento na produção de aço levaria automaticamente ao desenvolvimento industrial provou ser equivocada.
A tentativa de desenvolvimento industrial desse modo causou não apenas danos ambientais, mas também resultou em aço de má qualidade, inútil para a maioria das aplicações. Isso ressalta a importância de considerar cuidadosamente as implicações a longo prazo das decisões econômicas, especialmente em uma escala tão ampla.


Esses erros históricos destacam a complexidade da economia e a necessidade de aprender com o passado. Mesmo quando a economia é usada como uma ferramenta para subjugar populações, seja por más decisões internas ou hostilidades externas, as consequências podem ser devastadoras. A economia não é apenas sobre enriquecer as pessoas, mas uma disciplina que impacta drasticamente todos no mundo.
Atualmente, há um debate sobre o papel de um bom economista. Alguns defendem que a economia é uma ciência que deve ser conduzida com experimentação rigorosa e subserviência aos dados, buscando maximizar resultados mensuráveis como produção, riqueza e desenvolvimento humano. No entanto, a abordagem clínica baseada em dados também levanta preocupações sobre a exclusão de emoções e ideologia do processo econômico, indicando a complexidade e os desafios envolvidos na gestão eficaz da economia global.
SSimplificando, a abordagem fria e baseada em dados da economia pode eliminar a oportunidade de cometer erros econômicos catastróficos, mas enfrenta desafios significativos. Decisores políticos nem sempre seguem conselhos econômicos, e ideias excessivamente técnicas são difíceis de explicar ao público em geral. Às vezes, uma ideia boa o suficiente, implementada com sucesso, é preferível a um plano econômico perfeito que nunca será considerado.
Um problema é a aplicação rígida de estatísticas a uma ciência focada no ser humano. A abordagem excessivamente baseada em dados pode favorecer melhorias mensuráveis em detrimento de intangíveis como realização humana e felicidade. A alternativa é uma abordagem filosófica, em que os economistas agem como filósofos, considerando o que as pessoas realmente valorizam e a melhor maneira de alcançar esses objetivos.
Angus Deaton, ganhador do Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 2015, propõe essa abordagem, destacando que o consumo econômico desempenha um papel crucial no bem-estar humano. Ele argumenta que os economistas modernos devem estudar a economia de maneira mais holística.
Globalização, a tendência de países comerciarem e cooperarem mais livremente, trouxe benefícios mensuráveis, tirando milhões da pobreza e desenvolvendo indústrias líderes mundiais. No entanto, ela também gerou desigualdades, deixando alguns trabalhadores para trás, enquanto outros lucraram significativamente. A questão da globalização é um ponto de debate importante na economia moderna.
As consequências humanas reais incluem disparidades significativas na expectativa de vida entre diplomados e não diplomados nos EUA, com a diferença aumentando ao longo do tempo. A complexidade desses problemas destaca a necessidade de uma abordagem equilibrada que considere não apenas os números, mas também as experiências humanas e o bem-estar geral.


O trabalho de Angus Deaton destaca as falhas fundamentais da economia moderna, impulsionada pela globalização, ao negligenciar as consequências incomensuráveis de mudanças radicais. Por exemplo, a estatística de que um aumento de 1% no desemprego nos EUA está associado a 40.000 mortes evidencia as ramificações sociais graves causadas por políticas econômicas que, embora possam parecer boas no papel, prejudicam significativamente as pessoas na prática.
Deaton e outros economistas argumentam que a abordagem orientada por números da economia moderna pode levar a políticas que, embora busquem melhorar indicadores econômicos, causam grandes problemas sociais, como a epidemia de opioides e a falta de moradia em massa.
A busca por soluções é desafiadora. Se a economia se basear apenas em números, pode haver o risco de políticas que visam apenas resultados mensuráveis, ignorando consequências sociais significativas. Por outro lado, se a economia se tornar excessivamente filosófica ou política, há o perigo de tomar decisões que, embora possam parecer moralmente justificáveis, podem levar a resultados prejudiciais em larga escala.
Um exemplo prático é o dilema de uma pessoa que termina uma refeição no McDonald’s e tem que decidir se deve ou não jogar seu próprio lixo no lixo. Essa escolha envolve considerações filosóficas sobre responsabilidade individual e implicações econômicas, como a criação ou redução de empregos para lidar com a limpeza. Este experimento mental ilustra como decisões cotidianas podem ter implicações econômicas e sociais complexas.
Em última análise, a discussão destaca a necessidade de uma abordagem equilibrada na qual a economia considere não apenas os números, mas também os impactos sociais e humanos. A compreensão profunda dessas interações complexas é crucial para desenvolver políticas econômicas que buscam melhorar a vida das pessoas de maneira holística.
Concluímos nossa jornada através das complexidades da economia moderna e suas ramificações sociais. Ao refletir sobre as palavras de Angus Deaton e as discussões sobre globalização, políticas econômicas e responsabilidade individual, é evidente que a economia não pode ser reduzida apenas a números. A busca por soluções exige uma abordagem holística que considere não apenas os resultados mensuráveis, mas também o bem-estar humano. No Money Sapiens, continuaremos explorando as interseções entre economia, filosofia e sociedade, convidando você a se juntar a nós nessa jornada de descoberta. Não se esqueça de se inscrever, clicar no sino e compartilhar suas ideias nos comentários. Juntos, vamos desvendar os mistérios do dinheiro e da sapiência econômica.