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O Duende Maldito Que Assombrou Minha Família por Gerações!!!


Meu nome é Júlia, e o que vou dividir com você aconteceu há alguns anos, numa época em que eu ainda morava com meus pais, numa casa de dois andares em Guadalajara, mais precisamente em Zapopan. Nunca fui de acreditar nessas coisas que o pessoal chama de sobrenatural, nada de estranho tinha cruzado meu caminho antes disso. Eu tinha 21 anos.

Naquele dia, voltava da universidade. A casa estava vazia. Minha mãe tinha ido às compras, meu pai trabalhando. Entrei, larguei minha mochila sobre a mesa e segui direto para o quarto. Mas ao passar pelo banheiro, algo me fez parar. A porta estava entreaberta, como se alguém a tivesse empurrado devagar.

No começo, não dei muita importância. Mas, ao virar o rosto naquela direção, juro pelo que há de mais sagrado, vi alguém lá dentro. Era uma mulher parada diante do espelho. Vestia minhas roupas. Tinha o cabelo arrumado da mesma forma que eu costumava usar. Mas não era eu. Eu sabia que não era.

Fiquei ali, congelada. Na cabeça, tentei convencer a mim mesma de que podia ser meu reflexo, uma ilusão boba, coisa da mente pregando peças. Mas não podia ser. Eu estava do lado de fora e aquela figura imóvel não era eu. Ela simplesmente não se mexia, mas me encarava através do vidro.

O medo tomou conta de mim. Desci as escadas correndo e fui direto pra rua, esperando minha mãe voltar. Não sabia nem como contar aquilo. Como explicar? Quando ela chegou, despejei tudo de uma vez. Subimos juntas, olhamos cada canto, cada cômodo. A casa estava trancada, nada faltava, nada fora do lugar. Absolutamente ninguém.

Desde então, nunca mais consegui encarar meu reflexo num espelho por muito tempo. Uma sensação estranha toma conta de mim, como se a qualquer momento pudesse vê-la de novo. E toda vez que passo pelo banheiro — mesmo hoje, em outra casa, outro bairro — me certifico de que a porta está fechada.

Espero que você esteja tendo um dia calmo… e uma noite ainda mais tranquila. Porque as histórias de hoje não vão deixar você dormir de luz acesa. Coisas que fazem você pensar duas vezes antes de olhar para a janela. Histórias de quem, sem saber, já protagonizava seu próprio pesadelo.

Agora, se puder, apague a luz. Deixe as preocupações de lado, as pendências, o que ficou por fazer. Esqueça os problemas. Nos próximos minutos, você vai entrar comigo em relatos que atravessam a noite. Histórias que não pedem licença para acontecer.

Boa noite, comunidade. Eu sou Iker Martínez e quero contar pra você algo que aconteceu comigo há muitos anos, quando eu tinha apenas nove.

Guardo isso comigo como se tivesse sido ontem. Não apenas pelo que vi, mas pelo que senti. Foi a primeira vez que conheci o medo de verdade. Aquele medo que faz você duvidar da própria cabeça, questionar se o que viu era real ou apenas um sonho tão intenso que parece ter grudado na sua pele.

Na época, eu morava com meus pais e minhas duas irmãs. O mais velho da casa era eu. Depois vinha Débora, com quatro anos, e a caçula Isabela — a quem chamávamos de Chiquis. Nossa família era simples, gente de rotina. Meus pais trabalhavam duro, mas nunca deixavam de nos dar atenção. E mesmo que a casa fosse pequena, era cheia de vida, de barulho, de risadas. Um lugar onde nada parecia poder dar errado.

Mas foi numa viagem, num casamento de uma prima da minha mãe, que as coisas mudaram. A cerimônia seria em outro estado. A maior parte da família se hospedaria em dois hotéis, mas quando confirmamos, já era tarde demais — estavam lotados. Uma tia-avó se ofereceu para nos emprestar uma casinha simples, que ela mantinha vazia havia algum tempo.

 

A casa ficava em outro município, mas a apenas vinte minutos do local onde aconteceria o casamento. Quem nos indicou explicou que havia pertencido a uma família que, tempos atrás, saiu às pressas, deixando boa parte das coisas pra trás. Ainda havia camas, cortinas e alguns móveis antigos. Meus pais acharam que serviria bem. Seriam só algumas noites, afinal.

Lembro que a casa tinha um aspecto estranho. Nem bonita, nem feia. Carregava aquele ar de lugar vivido por anos, mas que agora estava ali, imóvel, esperando… Cheirava a casa habitada, a família. Só que não a minha. Você percebe como cada casa tem seu cheiro próprio, aquele que gruda nos móveis, nas paredes, nas cortinas… e acompanha quem morou ali. Mas essa… essa era diferente, como se recusasse a nos aceitar.

As paredes estavam limpas, as cortinas um pouco desbotadas, e a maioria dos cômodos vazios ou com móveis antigos, do tipo que você sente que alguém ficou tempo demais sentado ali, mas ninguém se lembra mais quem foi. O quarto onde eu e minha irmã Débora dormíamos era o mais novo da casa, com uma cama de solteiro e um colchão no chão. Foi ali que Débora achou a boneca.

Ela estava sobre a cama quando chegamos. Vestido branco, o rosto sujo e de porcelana, olhos pintados tão grandes que pareciam vigiar a gente. Os cílios eram de verdade. Não havia nome, nenhuma marca, mas o rosto… aquele rosto parecia saber demais. Minha mãe disse que devia ser de quem morou ali antes e, como seria só por uns dias, deixou pra Débora. A boneca virou companheira dela no mesmo instante e não largou mais.

Foi pro casamento, pra janta, acompanhou a gente em todo canto. Quando perguntaram pra nossa tia-avó se ela poderia guardar o brinquedo durante a festa, ela ficou surpresa. Disse que antes de emprestar a casa tinha feito questão de conferir tudo e não lembrava de ter visto boneca alguma. Mas se a menina tinha achado ali, talvez fosse de alguém que esqueceu. Acabou ficando.

De volta à rotina, Débora e a boneca viraram inseparáveis. Ela falava com ela, colocava na mesa, fazia desenhos pra mostrar. Tudo isso, por mais estranho que pudesse parecer, soava normal pra mim… até o dia em que Débora começou a dizer que a boneca se mexia.

“Ela anda à noite”, disse ela, sem nem levantar os olhos do caderno de colorir. “Quando eu durmo, ela vai embora. Mas não conta pra onde.” Eu ri. Disse pra ela parar de falar bobagem. Mas naquela noite mesmo, comecei a dormir de cobertor até a testa. E não era imaginação. Em várias madrugadas, eu tinha certeza de ouvir passos pequenos, como se pés descalços corressem apressados pelo corredor.

Eu me levantava, ia até o banheiro, conferia o corredor. Tudo aparentemente normal. Mas aí, numa dessas noites, minha mãe acordou assustada. Jurou que tinha ouvido algo no quarto. Ela foi correndo ver a bebê. Encontrou a menina de olhos bem abertos, inquieta, parecendo segurar o choro. No braço, um arranhão fino, recente.

O medo tomou conta de todos. Minha mãe foi até o quarto de Débora. E a boneca… não estava mais lá.

“Cadê sua boneca?”, perguntou, tentando não demonstrar o pavor na voz.

“Ela foi”, respondeu Débora, sonolenta, como se aquilo acontecesse toda noite. Mas o quarto estava vazio. A luz foi acesa, todos acordamos. A busca começou. Vasculhamos a casa inteira. Eu mesmo, morrendo de medo, tentando convencer a mim mesmo de que aquilo era loucura. Mas a verdade é que a boneca havia sumido.

Nada na sala, nada na cozinha, nenhum sinal dela em canto nenhum. Parecia que tinha evaporado da casa. Até que o grito de Débora cortou o silêncio:

“Ela voltou.”

Débora foi a primeira a ver. Correu até o quarto e lá estava a boneca, sentada na cama, bem na beirada dos pés. Olhava fixa pra porta. Imóvel, mas com uma postura… difícil de explicar. Como se nos esperasse. Como se soubesse que íamos entrar e estivesse pronta pra dizer alguma coisa, sem boca.

Minha mãe explodiu. Encheu-se de uma coragem repentina, tomada pela raiva e pelo medo que se acumulava desde a primeira noite naquela casa. Gritou alto, disse que estava farta daquela maldita boneca, que aquilo não era normal, que nunca devia ter ficado ali.

Sem pensar, pegou a boneca, atravessou a sala e a lançou pela varanda do segundo andar, direto pro jardim lá embaixo. O som do impacto foi seco. Eu e meu pai nos debruçamos na janela pra ver… e os dois vimos. Mesmo na penumbra, mesmo na distância, vimos.

A boneca se levantou.

Ajeitou-se devagar, curvada, e correu se esgueirando entre as plantas. Desapareceu no meio dos arbustos. Os dois vimos. Mas não falamos nada. Nenhuma palavra. Só silêncio.

Descemos com lanternas, mexemos nos vasos, levantamos folhas, fuçamos o jardim inteiro. Não estava mais lá. Mas bem no ponto onde havia caído… havia uma mancha. Pequena, mas vermelha. Como sangue. Daquela noite em diante, ela sumiu.

Débora parou de falar dela. Como se tivesse esquecido completamente. Como se nada daquilo tivesse acontecido. Meses depois, eu mesmo já não lembrava mais. Felizmente, aquela boneca se tornou só um detalhe esquecido, exceto por aquela marquinha fina no braço da minha irmã, como um aviso sussurrado.

Meus pais, esses nunca esqueceram. Meu pai dizia que aquilo que vimos não era só um capricho sobrenatural. Aquilo era coisa ruim. Demoníaca. E minha mãe… ela nunca mais tocou no assunto. Pelo menos, não comigo. Mas sei que ela lembrava.

Anos se passaram. Quando adulto, cada vez que eu precisava voltar àquela casa, visitar meus pais, eu não conseguia evitar. Passava pela varanda e meus olhos, por reflexo, corriam pro jardim. Cada folha que se mexia, cada sombra que balançava, parecia sinal de que aquela coisa ainda estava por ali. Como se tivesse ficado presa naquele matagal, espreitando, caminhando pela casa à noite como tinha feito antes.

Eu tinha medo só de pensar onde ela poderia ter ido. Se estava longe, esquecida, ou pior… muito perto. Muito mais perto do que eu queria imaginar. E, mesmo assim, me sentia aliviado de saber que um dia meus pais venderam a casa. E eu, enfim, nunca mais precisei voltar.

Olá, boa noite. Meu nome é Grécia Ortiz, e já faz algum tempo que tento criar coragem pra contar isso. Porque essa história, pra minha família, foi mais do que uma lembrança. Foi um aviso. E eu sempre admirei esse espaço, sou fã do que fazem aqui, mas foi difícil tomar essa decisão de compartilhar.

Sou originalmente de uma cidade em Oaxaca. Nem tão pequena, mas cercada por comunidades muito menores. Cresci ali até precisar sair pra universidade.

Tudo começou na casa onde eu morava com minha mãe e minha irmã. Uma casa grande, de dois andares, com um quintal que dava pra ver pelas portas de correr da cozinha ou pela porta lateral. Numa tarde, a senhora que ajudava nas tarefas estava sozinha. Eu e minha irmã estávamos na escola, e minha mãe tinha saído.

Ela lavava a louça na cozinha, bem em frente à janela que dava para o quintal. Foi então que ela viu. Lá, no canto mais escuro do pátio, estava um homem. Um homem estranho, muito alto, parado, imóvel. Vestia-se todo de preto, roupas pesadas e grossas, completamente inadequadas para o calor daquele lugar. Trazia um chapéu escuro que cobria quase todo o rosto.

Não se moveu. Só ficou ali, olhando pra dentro da casa.

A mulher ficou paralisada, incapaz de reagir. Tentou não olhar mais, desviou o rosto, mas quando se virou… viu o mesmo homem. Não lá fora. Dentro de casa. Descendo devagar as escadas que levavam pro segundo andar. No pequeno espaço sob os degraus.

 

 

De onde ela estava, conseguiu vê-lo de novo. A mesma figura. Parada. Com um sorriso esquisito, fraco e trêmulo, que por algum motivo causava um medo tão fundo que não tinha como explicar. Ele não disse nada. Não se moveu. Só ficou lá, observando.

A senhora começou a rezar. De todas as formas que sabia. Era muito religiosa, devota. Na cabeça dela, algo assim nem poderia existir. Não cabia dentro do mundo das coisas possíveis. Mas estava ali. Diante dela. Ela jurava que viu.

Minha mãe a encontrou depois, sentada no quarto, chorando, sem conseguir falar. Daquele dia em diante, a casa nunca mais foi a mesma. A atmosfera mudou. Ficou carregada, pesada, como se cada canto escondesse algo esperando a hora certa pra aparecer.

Visitantes começaram a notar. Sentiam cheiros estranhos, viam vultos no quintal, sombras passando rápido pelos cômodos. No começo, a gente não via nada. Mas aos poucos, também começamos a perceber. A ter aquela sensação constante de estar sendo vigiado.

Teve uma tarde em que o vizinho dos fundos ligou desesperado pra minha mãe. Disse que alguém estava correndo pelo quintal, como se tentasse entrar na casa. Mas não tinha ninguém lá. Meu avô foi conferir, armado, e também não achou nada.

Podíamos pensar que era só um ladrão, alguém tentando invadir. Mas a descrição batia em cheio. O mesmo homem de preto. Alto, parado, com o rosto quase todo coberto pelo chapéu.

Algum tempo depois, outra coisa aconteceu. Eu tinha saído pra uma viagem, como de costume, e deixado meu quarto trancado. Eu tinha dezoito, minha irmã, dezesseis. Numa tarde, enquanto minha mãe e ela viam filmes no quarto principal, ouviram passos no telhado.

O problema é que o telhado era difícil de acessar. Irregular, sem escadas externas. Quase impossível pra alguém subir ali sem fazer muito barulho. Pensaram que podia ser alguém tentando arrombar, então correram até a porta do meu quarto e a arrombaram. Dali, dava pra ver parte do telhado e a escada que levava até ele. Mas não tinha nada.

Chamaram de novo meu avô. E dessa vez, uma amiga da minha mãe, que entendia dessas coisas. Ela ouviu o que havia acontecido, e deixou claro: não saiam. O que estava rondando a casa não era humano. E queria fazer mal.

Passaram aquela noite inteira e o dia seguinte vasculhando tudo. Reviraram cada canto. No jardim, encontraram coisas enterradas. Fios misturados com cabelos, pedaços de pano, pequenos objetos estranhos, todos cobertos de terra.

Na cidade, chamavam isso de trabalho. Alguém queria tirar a gente dali. Ou coisa pior. Como qualquer católico faria, trouxeram um padre. Abençoou a casa inteira. A amiga da minha mãe fez uma limpeza. Mas nada mudou. As coisas pioraram.

As manifestações foram ficando mais frequentes. Aos poucos, todos fomos saindo daquela casa. Eu fui pra faculdade, minha mãe e minha irmã se mudaram pra capital de Oaxaca. Mas não adiantou. Mesmo longe, ele continuava aparecendo. Viam o homem em momentos aleatórios, em lugares diferentes. De certo modo, virou parte da história da família. Como se fosse uma sombra grudada, que ninguém mais fazia questão de contar, porque nem surpreendia mais.

A gente sabia. Sentia. Mesmo sem ver, sabíamos que às vezes tinha alguém por perto. Na maior parte do tempo. Tentávamos fazer piada, chamar de “vizinho invisível”, só pra não mergulhar naquele medo de novo.

Minha mãe e minha irmã o viram algumas vezes. Eu era o único que nunca tinha tido um encontro direto. Até que aconteceu.

Morava em Puebla, dividindo uma pequena casa de dois andares com um amigo. Uma tarde, outro colega passou lá pra me visitar. Saímos pra esquina comprar coisa num mercadinho. Quando voltamos, ele me perguntou:

— Cara… teu colega já voltou pra casa?

 

 

 

Ele disse que viu alguém olhando pela janela do meu quarto. Virado pra rua. Eu sabia que isso era impossível. Meu colega de casa só voltava tarde da faculdade e, naquela hora, ainda não tinha chegado. Entramos com certo receio, o silêncio pesado acompanhando cada passo, mas não tivemos coragem de subir até ele voltar.

Quando nós três finalmente estávamos juntos, subimos e conferimos cada canto. Nenhum sinal de nada. Nem barulho, nem rastro, nem sinal de entrada. Mas a estranheza ficou no ar.

Depois disso, começaram a acontecer coisas ainda mais estranhas. Especialmente com meu amigo de quarto. No início, nenhum de nós teve coragem de falar sobre isso. Como se admitir desse forma ao medo. Como se nomear aquilo tornasse real.

Até que um dia ele não conseguiu mais segurar. Me contou. Disse que, numa tarde, sozinho em casa, ouviu alguém chamar pelo nome dele. Vinha da direção do meu quarto. Primeiro, achou que fosse alguém na rua, porque a janela dali dava direto pra fora. Mas quando entrou, não tinha nada. E pior, ele percebeu que a voz tinha vindo de dentro mesmo. Do meu quarto.

Quando me disse isso, senti medo. Mas junto veio um tipo de tristeza, uma sensação pesada de desalento que não sei descrever. Aquela noite dormimos no mesmo quarto. E foi ali que aconteceu comigo.

Acordei no meio da madrugada sem motivo. Tudo estava escuro, e no meio do breu eu vi. Aquela silhueta. A mesma que tantas vezes imaginei no passado, a mesma de todas as histórias. Parada aos pés da cama. Um sobretudo escuro, chapéu cobrindo parte do rosto, e a presença imóvel. Só nos observando. Nenhuma palavra. Nenhum movimento.

Graças a Deus, pelo menos não vi aquele sorriso. Nem aquele sorriso nervoso que minha mãe tinha descrito. Só a figura parada, sufocando o quarto inteiro com sua existência.

Tentei acordar meu colega. Ele só virou de lado, murmurou sonolento: “Vai dormir… vai dormir.” Não sei se ele não quis ver ou se estava apavorado demais pra reagir.

Fechei os olhos com força. Tentei me convencer de que aquilo não estava ali, que era só coisa da minha cabeça. Que se eu não olhasse mais, desapareceria.

Na manhã seguinte contei pra minha mãe. Ela mandou uma bíblia e água benta. Pediu pra eu rezar. E olha que eu nunca fui religioso. Mas naquela noite, rezei como nunca na vida. Duas semanas depois, a decisão estava tomada. Íamos nos mudar.

Desde então, nunca mais voltei a ver. Conversei com a mãe de um amigo meu, dessas pessoas que acreditam e entendem dessas coisas. Ela disse que essa entidade se aproximava mais da minha mãe e da minha irmã porque emocionalmente eram mais frágeis, mais abertas. E que talvez eu, por ter uma energia mais fechada, tivesse conseguido manter afastado por anos. Mas quando me mudei pra Puebla, longe da família, essa proteção caiu.

A verdade é que quase todos na minha família já tiveram algum tipo de experiência com essa coisa. Algumas histórias foram contadas entre nós, outras, cada um guardou pra si. Eu pesquisei muito, em páginas e fóruns. E sim — existem outros. Outros relatos iguais. Uma figura alta, de sobretudo escuro, chapéu, que nunca fala, nunca se move, mas que impõe um medo que não se explica.

Hoje parece ter sumido das nossas vidas. Ninguém sabe dizer por quê. Talvez alguém tenha tirado, talvez ele tenha achado outro lugar. Mas a sensação é a mesma: a qualquer noite, pode voltar.

Agradeço por terem ouvido minha história. Se mais alguém por aí já viu, já sonhou, já sentiu essa presença… me escreva. De certa forma, saber que não estamos sozinhos ajuda. Dá uma paz estranha. Não sei se faz sentido. Mas é assim.

Se algum dia alguém cruzar com essa coisa… só peço cuidado. Porque ninguém sabe o que ela quer. Nem qual é a intenção dela.

 

 


O que eu sei, com toda certeza, é que isso não é nada bom. No fim da descrição, deixei um link pro episódio completo e pro meu livro Contos da Noite, que traz treze histórias de terror. Tem uma edição especial, bem limitada, e se um dia você encontrar em alguma livraria física, não hesite… leve com você.

Mas vamos seguir, porque essa noite ainda carrega mais histórias.

Essa aqui me foi enviada de forma anônima. A pessoa explicou que sua família é muito grande e poucos sabem dessa história, dessa experiência estranha que eles viveram. Ela contou que é da província de La Rioja, na Argentina.

A família dela sempre foi muito unida, principalmente enquanto os avós paternos estavam vivos. Todas as festas, aniversários, reuniões de final de semana aconteciam na casa deles. Uma casa simples, com três quartos, cozinha, sala de jantar e um pátio pequeno, mas muito bem cuidado pela avó, que tinha verdadeira paixão pelas plantas. Ela dizia que até os pisos daquele lugar tinham vida.

O que aconteceu começou quando ela tinha nove anos. Numa tarde quente — e quem conhece La Rioja sabe o calor que faz por lá — ela estava deitada em uma das camas, ao lado de uma janela aberta que dava para o quintal. Eram mais ou menos três da tarde e, naquela época, ar-condicionado era luxo de novela. As casas eram feitas pra respirar com o calor.

Deitada, quase dormindo, sentiu de repente puxões violentos em seu cabelo. Acordou assustada, virou-se para a janela e o que viu ali ficou marcado na memória para sempre. Na moldura da janela, parado, havia um ser minúsculo, acinzentado, vestindo roupas de lã, mesmo naquele calor insuportável. Tinha olhos pequenos, brilhantes, e dentes finos, pontudos. Estava sorrindo.

Ela correu em disparada para o quarto dos avós, chorando, e os acordou. Esperava que dissessem que era só um sonho, que era coisa da cabeça dela. Mas a avó se levantou, pediu calma e, sem hesitar, foi até o quintal. Ela foi direto às plantas, bem embaixo da janela, e começou a falar em voz alta.

Dizia: “Eu te disse que podia ficar aqui, desde que não incomodasse as crianças. Se continuar, vou te mandar de volta pra onde veio. Pra pompa outra vez.” Disse mais algumas coisas, mas aquilo foi o que ficou gravado na memória da menina.

Depois disso, a avó explicou que aquilo era só um duende, que tinha vindo junto com a terra de Chilecito — um departamento da província — de onde os avós sempre traziam pedras e terra pro jardim. A criança, como era de se esperar, esqueceu daquilo. Deixou pra lá. Até sete anos depois.

Naquele dia, um dos primos teve a primeira filha. Era um domingo de família, todos reunidos na casa dos avós. A bebê tinha só dois meses. Depois do almoço, colocaram ela pra dormir no mesmo quarto, com a janela aberta pro quintal.

Estavam todos na mesa, conversando, quando a bebê começou a chorar alto. O primo correu até o quarto e voltou com a menina nos braços, apavorado. No braço esquerdo da criança, uma marca de mordida. Sangrava. A mordida era pequena, mas funda.

Os avós disseram que tinha sido o gato. Mas ninguém acreditou. Ninguém precisou dizer nada. Quem cresceu naquela casa, quem conhecia as histórias, sabia. Aquela noite ficou atravessada no peito de todo mundo.

Mais tarde, enquanto lavava a louça, ela criou coragem e perguntou à avó se tinha sido o duende. Sem nem virar o rosto, a avó respondeu: “Sim, minha filha. Mas já castiguei.”

O assunto ficou guardado. Até que, em 2005, o avô faleceu. A avó ficou sozinha na casa. Os filhos e netos se revezavam pra passar algumas noites com ela, pra que nunca ficasse desacompanhada.

Durante esses anos, a avó continuava conversando com as plantas. Dizia que o pátio tinha vida, que as coisas estavam calmas. Nenhum incidente. Nenhum sinal daquele ser.

Até 2008.

Depois que a avó morreu, um dos tios contou. Certa noite, enquanto dormia na casa, sentiu uma dor aguda no pé…

 

Meu tio contou que, certa noite, enquanto dormia no antigo quarto dos meus avós, sentiu uma dor aguda no pé. Quando acendeu a luz, viu dois pequenos arranhões, como se algo com unhas muito finas tivesse passado por ali. Disse que preferiu não comentar nada na época, mas não voltou mais a dormir naquela casa.

A casa ficou vazia. Por algum tempo, alguns dos netos ainda iam até lá, mas aos poucos, todos foram evitando. Um ou outro ia só pra regar as plantas ou pegar alguma coisa esquecida. Diziam que a casa ficou diferente depois que minha avó se foi. O ar estava mais pesado, as coisas pareciam mais quietas, mas não uma quietude boa — era como se houvesse sempre alguém observando, ali, entre as plantas ou atrás das portas semi-abertas.

Uma prima contou, anos depois, que durante uma dessas visitas rápidas à casa, ouviu um barulho de passos miúdos vindo do quintal. Pensou que fosse algum gato ou passarinho, mas ao se aproximar da janela, não viu nada. O estranho é que o cheiro de terra molhada, que antes era tão agradável, estava diferente… era um cheiro enjoativo, forte, quase azedo.

Ela decidiu sair sem olhar para trás.

A casa foi vendida em 2010. O novo dono reformou, construiu outro muro, tirou as plantas antigas, mexeu no pátio. Dizem que depois disso, nada mais aconteceu ali. Mas a verdade é que ninguém da nossa família passou por lá pra confirmar. Não por medo, mas porque certas coisas a gente prefere deixar onde estão.

Anos se passaram. Eu mesmo, que ouvi e vivi parte dessa história, às vezes sinto, em noites muito silenciosas, um cheiro estranho vindo da janela. Um cheiro doce e amargo, como o daquelas plantas antigas do quintal dos meus avós. Nesses momentos, é inevitável não lembrar daquele ser minúsculo, acinzentado, com roupas de lã e dentes pontudos, parado na moldura da janela, sorrindo.

Talvez ele tenha ficado naquela terra, talvez tenha encontrado outro lugar. Ou talvez… quem sabe… ele só precise que alguém se lembre.

É isso. Se você chegou até aqui, muito obrigado por acompanhar essas histórias comigo. Se gostou, deixa o like, que isso ajuda muito, e se inscreve no canal pra não perder as próximas histórias. Quem sabe, numa noite qualquer, você não se lembra de alguma coisa parecida e volta aqui pra contar pra gente. Até a próxima.