A tarde chuvosa fazia com que a cidade ganhasse um ritmo mais lento, e Eduardo gostava disso. Gostava de observar as ruas molhadas, as luzes refletindo no asfalto e o cheiro de café que tomava conta da pequena cafeteria de esquina onde sempre parava.
Foi então que a viu.
Marina estava sentada sozinha, folheando um livro de capa envelhecida, os dedos delicadamente deslizando pelas páginas. Seu cabelo caía sobre um ombro, e vez ou outra, ela levava a xícara de chá aos lábios sem tirar os olhos da leitura. Havia uma tranquilidade nela que contrastava com o barulho das gotas de chuva contra o vidro.
Eduardo pediu um café e ficou observando-a de canto de olho. Não era do tipo que fazia abordagens óbvias, mas algo nele dizia que Marina era diferente. O tipo de pessoa que não se impressionava com palavras vazias.
Ele puxou um guardanapo e, com sua caligrafia firme, escreveu:
“O que é mais envolvente: uma boa história ou um bom olhar?”
Disfarçadamente, deixou o guardanapo ao lado do livro dela ao passar pelo balcão. Marina demorou alguns segundos para notar. Quando leu a mensagem, ergueu os olhos, encontrando o olhar de Eduardo pela primeira vez.
Ela não sorriu de imediato. Em vez disso, inclinou a cabeça levemente, como quem avalia um enigma. Depois, pegou sua caneta e respondeu no verso do guardanapo:
“Depende de quem conta a história e de quem segura o olhar.”
Ela fez sinal para o atendente e pediu que o entregasse ao desconhecido sentado na mesa ao lado.
Quando Eduardo leu, seu sorriso foi inevitável. Olhou para Marina novamente, e dessa vez, encontrou um pequeno brilho divertido em seus olhos.
O Segundo Movimento
Os minutos passaram, e Eduardo percebeu que Marina não era do tipo que se deixava levar facilmente. Então, decidiu continuar o jogo.
Pegou outro guardanapo e escreveu:
“Parece que você aprecia boas histórias. Mas será que já viveu uma que valha a pena ser contada?”
Dessa vez, ele mesmo se levantou e colocou o guardanapo sobre a mesa dela. Antes que Marina pudesse responder, ele se afastou e voltou para seu lugar, saboreando seu café com calma.
Marina leu a frase, soltou um pequeno suspiro e sorriu de canto. Pegou a caneta, mas em vez de escrever, fechou o livro e olhou diretamente para ele.
— Algumas, talvez — disse, erguendo a sobrancelha. — Mas uma boa história precisa de um bom começo.
Eduardo inclinou a cabeça, interessado.
— Concordo. E também precisa de bons personagens.
— O que me faz perguntar… — Ela apoiou o queixo sobre a mão. — Você se considera um bom personagem?
Eduardo sorriu.
— Depende da história que você quer contar.
Os dois ficaram se encarando por alguns instantes. A tensão era quase palpável. Marina brincava com a borda da xícara, enquanto Eduardo girava a colher entre os dedos. Nenhum dos dois parecia com pressa de quebrar o encanto daquele momento.
Uma Caminhada na Chuva
Até que Marina tomou a iniciativa.
— Tem um lugar aqui perto com um dos melhores vinhos da cidade. Se for um bom personagem, talvez eu te deixe me acompanhar até lá.
Eduardo segurou o olhar dela por um segundo a mais antes de responder:
— Apenas se você prometer que essa história vai continuar interessante.
Ela pegou seu livro, colocou o casaco e se levantou.
— Isso, meu caro, só depende de você.
E então, sem olhar para trás, saiu da cafeteria.
Eduardo observou pela janela por alguns segundos, depois pegou seu casaco e a seguiu.
A chuva ainda caía fina, dando um brilho especial às ruas da cidade. Marina andava sem pressa, sem se importar em dividir o guarda-chuva.
— Então, Eduardo — ela disse, quebrando o silêncio —, você sempre joga charadas com desconhecidas em cafeterias?
— Apenas quando me deparo com um bom mistério — ele respondeu, olhando para ela com um sorriso sugestivo.
Marina riu de leve e apontou para uma pequena adega na esquina. O local tinha luzes amareladas e uma atmosfera aconchegante. Eles entraram e se sentaram em um canto reservado.
A conversa fluía como se fossem velhos conhecidos. Marina falava sobre literatura, sobre como amava a imprevisibilidade das boas histórias. Eduardo falava sobre viagens, sobre como gostava de conhecer lugares sem um roteiro definido.
Os olhares trocados se tornaram mais intensos. Marina tocava a borda da taça com os dedos, enquanto Eduardo inclinava o corpo levemente para mais perto.
Quando o garçom trouxe a conta, Marina pegou a caneta e, em vez de apenas assinar, escreveu no papel: “A história ainda não acabou.”
Eduardo leu e sorriu. Ele sabia que aquela noite seria apenas o primeiro capítulo de algo que prometia ser inesquecível.
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