Sula Miranda, uma das figuras mais marcantes da música popular brasileira, construiu uma carreira repleta de altos e baixos, marcada por grandes conquistas e desafios pessoais profundos. Desde seu nascimento em São Paulo, enfrentando problemas de saúde logo nos primeiros dias de vida, até sua ascensão como a “Rainha dos Caminhoneiros”, sua vida sempre esteve ligada à superação e à busca por reinvenção. Com uma carreira que atravessou o universo sertanejo, programas de TV e, mais tarde, a música gospel, Sula tornou-se sinônimo de persistência em meio às adversidades, transformando sua história em um relato de resiliência e renovação constante.
Nascida em 12 de novembro de 1963, na periferia de São Paulo, Sueli Brito de Miranda, que viria a ser conhecida como Sula Miranda, cresceu em um ambiente cheio de desafios. Desde os primeiros dias de vida, sua saúde preocupava a família, pois ela nasceu com um estreitamento na laringe e um problema grave no timo, dificultando sua alimentação. Com apenas um mês, Sula foi examinada por uma junta médica que recomendou uma traqueostomia. No entanto, sua mãe, Dona Maria José, decidiu não autorizar o procedimento devido às sequelas que poderiam surgir.
Em busca de alternativas, o pediatra responsável pelo caso iniciou um tratamento com antibióticos, que trouxe bons resultados. Embora se recuperasse, Sula continuava com a saúde frágil. Por conta disso e também por ciúmes, seu pai limitava as brincadeiras dela e de suas irmãs, Maria Odete e Iara, impedindo que brincassem na rua. Como forma de compensação, ele ocasionalmente presenteava as meninas com brinquedos e instrumentos musicais. Essa rotina fez com que as irmãs passassem horas em casa, dedicando-se à música e à dança, chegando até a ensinar o que aprendiam umas às outras.
Com o passar do tempo, esse hobby evoluiu. A música deixou de ser apenas diversão, e o talento das irmãs se tornou evidente. Elas formaram o grupo As Mirandas, inicialmente como uma brincadeira familiar. Entretanto, para Sula, esse era apenas o início de uma longa história musical. Mais tarde, ao lado de Iara, Maria Odete (que futuramente seria conhecida como Gretchen) e a amiga Paula, o trio se transformou em um quarteto, dando origem ao grupo As Melindrosas. O estilo dançante e cativante do grupo logo conquistou o público, e em 1979, elas alcançaram grande sucesso com o LP Disco Baby.
O álbum foi um fenômeno e vendeu 1 milhão de cópias, um número impressionante para a época, especialmente considerando que Sula tinha apenas 15 anos. Esse sucesso revelou a presença de palco e o talento da jovem, que se destacava no grupo. Em 1986, Sula iniciou sua carreira solo ao assinar contrato com a gravadora 3M. Seu primeiro disco solo trouxe a canção Caminhoneiro do Amor, composta por Joel Marques. A música se tornou marcante por abordar a vida da esposa de um caminhoneiro, oferecendo uma visão única dentro do universo sertanejo.
A aceitação foi imediata. A identificação do público com a temática popular fez a canção dominar as rádios em poucas semanas. Em apenas dois meses, Sula vendeu mais de 100 mil cópias e recebeu seu primeiro disco de ouro. Foi também a partir desse momento que recebeu o título de “Rainha dos Caminhoneiros,” um reconhecimento que se tornaria parte de sua identidade artística. Com carisma e talento, Sula passou a realizar uma média de 25 shows por mês, viajando por todo o Brasil.
Ao longo de sua carreira, Sula gravou 17 discos, sendo a maioria deles voltados à música sertaneja. Mais recentemente, também lançou trabalhos no segmento gospel, além de coletâneas que reúnem seus maiores sucessos. Paralelamente, ela participou de programas voltados para o público das estradas, como Clube Irmão Caminhoneiro Shell e Siga Bem Caminhoneiro, onde não apenas se apresentava, mas também desenvolvia outras atividades. Além da música, Sula diversificou suas empreitadas, licenciando sua marca para diferentes produtos e investindo no setor de moda, com uma grife que chegou a contar com 40 lojas franqueadas em todo o país.
Se a vida artística de Sula foi marcada por conquistas e grande reconhecimento, o mesmo…
A vida amorosa de Sula Miranda foi marcada por escolhas difíceis, desafios e tragédias que influenciaram profundamente sua trajetória pessoal e profissional. Aos 18 anos, ao atingir a maioridade, ela tomou uma decisão impulsiva e se casou. Apesar de movida por um desejo de romantismo e pureza, o matrimônio era também uma forma de fugir de um lar desestruturado. Seu pai, Mário, enfrentava problemas com a bebida, tornando a convivência em família insustentável. Quando a mãe de Sula decidiu pedir a separação e sair de casa, a situação ficou ainda mais delicada.
Sula descreveu que o casamento foi uma tentativa de buscar estabilidade em meio ao caos: “Eu tinha um sonho de casar virgem, meus pais se separaram e eu fiquei sozinha com 16 anos. Minha mãe foi embora, e eu fiquei com o meu pai, que era alcoólatra. Minha decisão foi uma solução de fuga.” Contudo, o casamento não durou muito, e ela enfrentou seu primeiro divórcio ainda jovem.
Anos depois, Sula iniciou um relacionamento que traria consequências profundas para sua vida. Durante os primeiros anos de sua carreira, ela conheceu Luís Flávio Rocha, empresário do meio sertanejo, com quem desenvolveu uma forte amizade. Naquela época, Luís Flávio estava comprometido, e Sula, ainda processando seu divórcio, chegou a incentivá-lo a manter o relacionamento com sua então namorada. Ele seguiu o conselho, casou-se, mas o destino os colocou frente a frente novamente em um momento diferente de suas vidas.
Agora solteira, Sula reencontrou Luís Flávio, que passava por dificuldades em seu casamento. Uma nova conexão surgiu, e os dois começaram um relacionamento, embora ele ainda fosse casado. Sula acreditava que o modo como a união começou foi um erro inicial que marcou o desenrolar dos eventos seguintes. Luís Flávio, mesmo com um filho recém-nascido, decidiu se separar de sua esposa para viver com Sula. Eles oficializaram o relacionamento, mas logo a felicidade esperada deu lugar a uma convivência conturbada, marcada por episódios de agressão e pelo alcoolismo de Luís Flávio.
O ponto culminante dessa relação aconteceu em 1990, em uma noite que começou com um evento aparentemente comum. Após uma sessão de fotos romântica para uma publicação, Sula organizou um jantar em casa com a equipe de trabalho. Luís Flávio, embriagado, deixou a residência para comprar cigarros e, ao retornar, encontrou a casa vazia, pois os convidados já haviam partido. Sob o efeito do álcool, ele iniciou uma discussão. Sula, acostumada com esses episódios, se trancou no quarto para evitar mais conflitos, mas o que ocorreu em seguida foi devastador.
Um disparo foi ouvido do outro lado da porta. Ao correr para a sala, Sula encontrou Luís Flávio caído. Tentando reanimá-lo instintivamente, não percebeu imediatamente que ele havia atirado contra si mesmo. Apenas com a chegada dos peritos soube que o disparo havia sido fatal, possivelmente acidental. O episódio mergulhou Sula em um abismo de dor e isolamento. A imprensa explorou intensamente o caso, e a cantora, já devastada emocionalmente, passou a ser julgada publicamente. Sentiu-se abandonada por amigos e por aqueles que antes estavam ao seu lado.
Em sua autobiografia De Rainha a Serva de Deus, Sula descreveu a solidão e o impacto emocional desse período: “Me senti invadida, desprotegida e solitária. Foi naquela hora que muitos ditos amigos se afastaram de mim.” Abalada pela depressão, ela afastou-se dos palcos e da mídia, buscando apoio em tratamento psicoterápico. Ainda assim, Sula demonstrou força ao se reerguer em meio à tragédia. Ela conta que, apesar do luto e da reconstrução, em apenas seis meses estava de pé novamente, pronta para continuar.
Já em 1992 Recuperada do trauma vivido nos anos anteriores, Sula Miranda começou uma nova fase em sua carreira, que parecia promissora. Um de seus sonhos, o de apresentar um programa de música sertaneja no SBT, finalmente estava prestes a se realizar, com exibição em horário nobre. Contudo, o que deveria ser um marco se transformou em outro episódio conturbado. Rumores começaram a circular na imprensa, apontando Sula como suposta responsável por uma crise no casamento de Silvio Santos e Iris Abravanel.
A cantora negou veementemente qualquer envolvimento com Silvio, mas a repercussão negativa prejudicou sua trajetória na emissora. “Estreei meu programa e aconteceu uma situação que só o casal sabe o motivo. A mídia quis encontrar um culpado, e eu era a bola da vez. Era novinha, tinha acabado de estrear.” Apesar de tudo, Sula foi demitida do SBT em janeiro de 1993, enquanto Silvio e Iris retomavam o casamento. Anos depois, ela declarou em entrevistas que, embora o episódio tenha sido difícil, Silvio Santos foi fundamental em sua carreira e que tanto ele quanto sua família sempre souberam que as especulações não tinham fundamento.
Após o término de seu segundo casamento, Sula encontrou uma nova razão para seguir em frente: a maternidade. Em 1994, casou-se com Osmar Gonzalves, empresário do setor televisivo, e em 1998 teve seu único filho, Nathan. Durante esse período, Sula optou por uma vida mais reservada, priorizando a família. Com o apoio de Osmar, apresentou alguns programas voltados para o público feminino, como Elas, na RedeTV!. Entretanto, o casamento terminou em 2004, e com o divórcio veio uma fase complicada.
Enfrentando dificuldades financeiras e a recessão em sua carreira, Sula passou por situações desafiadoras, chegando a realizar faxinas para sobreviver. Esse período foi marcado por um profundo desamparo emocional e econômico. Contudo, foi em meio a essas adversidades que ela encontrou um novo caminho. Em 2008, Sula se converteu ao evangelismo, mergulhando nos estudos da Bíblia e abraçando sua nova fé. Decidiu abandonar a música sertaneja para se dedicar integralmente ao gospel, refletindo seus novos valores e princípios.
Embora sempre tenha tido uma relação próxima com a família, a nova fase trouxe alguns dilemas. Em particular, o relacionamento com Gretchen e outros membros da família ficou mais exposto durante o reality show Os Gretchens, exibido pelo Multishow. Seu sobrinho Thammy Miranda chegou a relatar que Sula teria dito que ele estava condenado ao inferno por conta de sua cirurgia de redesignação sexual. Apesar das tensões, os conflitos familiares se amenizaram com o tempo. Gretchen e Sula, por exemplo, chegaram a participar juntas do programa de Serginho Groisman, surpreendendo internautas que desconheciam o parentesco.
Em declarações mais recentes, Sula negou rejeitar Thammy, afirmando que sempre o considerou uma bênção em sua vida e que o respeita. Atualmente, Sula está focada na música gospel e decidiu permanecer solteira, vivendo em celibato desde 2007. Em setembro de 2024, voltou a ser notícia quando teve o celular roubado enquanto fotografava a apresentadora Claudete Troiano na rua.
Sula mora em São Paulo e segue dedicada à sua fé e ao trabalho musical.
A Vida de Sula Miranda é um exemplo claro de determinação e transformação. Entre os desafios pessoais e as conquistas profissionais, ela nunca deixou de buscar seu espaço e de se reinventar, seja como cantora sertaneja, apresentadora ou artista gospel. Aos 60 anos, continua deixando sua marca na música e inspira aqueles que a acompanham, mostrando que a fé e a força de vontade são capazes de superar qualquer obstáculo.